[Albergue Espanhol]


«Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo (...), feira cabisbaixa, meu remorso, meu remorso de todos nós...» {Alexandre O'Neill}

segunda-feira, janeiro 16

Ordenamento

Um dos verdadeiros dramas do País é a falta de ordenamento, aos mais diversos níveis e nos mais diversos sectores, tornando-o muito vezes ingerível. O desordenamento territorial é apenas o mais visível, a olho nú, mas contaminou quase todos os outros sectores. Os espanhóis, só para falar do exemplo mais próximo, perceberam isso há muito tempo, foram tomando medidas e ganharam muito com isso.
Em Portugal, qualquer tentativa de ordenar e racionalizar é recebida com manchetes como a de hoje do JN. «Governo quer fechar», sejam escolas, esquadras, centros de saúde, etc, etc. Depois virão as inevitáveis reportagens televisivas com alguém a lembrar que a escola x da aldeia y chegou a ter cento e tal alunos, quando a aldeia tinha dois mil habitantes. Hoje a escola tem três ou quatro alunos, a aldeia pouco mais de cem habitantes. Mas, os pais, sempre os paizinhos, e os autarcas, claro, «sempre ao lado do povo», acham-se no direito a ter a escola à porta, o centro de saúde a dois minutos de distância, a esquadra no bairro.
Sem perceber que isso, essa multiplicação brutal e desordenada de instalações, de centros e centrinhos, torna cada um desses sectores absolutamente ingerível. Sem perceber que o que verdadeiramente devem reclamar é uma melhor educação, melhores serviços de saúde, mais segurança nas ruas. De que vale ter uma esquadra no bairro, se não tiver mais polícias na rua? De que vale um centro de saúde a cinco minutos de distância, se não houver médicos?
Não há, entendamo-nos, nesta matéria, inocentes. Tende-se na oposição a desdizer o que se fez no poder, tende-se no poder a desmentir o que se disse na oposição. Como resolver o problema? Só concebo uma forma: fazer o que há a fazer, fundamentadamente. Racionalizar. Ordenar. E, a prazo, o mais curto possível, melhorar os serviços prestados ao cidadão. Apesar das manchetes, dos paizinhos, dos autarcas.

||||| Escrito por dm :: 1:10 da tarde :: 0 Comentários